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novembro

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O populismo e as eleições

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Não se trata do projeto, mas do discurso

Existem eleições cujos candidatos são mais “cabeças”, diríamos assim. Isto é, são mais afeitos ao lado administrativo da política. Contudo existem outros que são mais adeptos do populismo.

E o que é populismo? Numa página do UOL, Aletéia, de origem católica, este tema é abordado em recente matéria e é interessante ressaltar aqui. Diz ela que o termo “populista” é muito aplicado, em sentido pejorativo, aos adversários, nunca aos aliados.

Dos cinco presidentes brasileiros eleitos diretamente depois do regime militar, apenas Fernando Henrique Cardoso não foi criticado por seus adversários como “populista”. Lula e Bolsonaro foram os mais associados ao populismo, mas a crítica também foi aplicada a Collor e Dilma.

No fundo, o populismo é uma estratégia eleitoral. São candidatos que se apresentam como líderes populares que normalmente apelam para a carência das classes mais baixas da população, ou ainda a insatisfação da classe média.

Enfim, se apresentam como os paladinos sociais contra as elites, tanto econômicas, como sociais. Associe-se a isso, os discursos populistas contra os desmandos da máquina pública, a corrupção e a busca da justiça e o bem-estar da população.

Nos EUA, na França e em outros países do norte europeu, as eleições são definidas em cima de propostas que os candidatos apresentam à população. Vota-se, portanto num programa definido de comando da nação e aqui está a beleza do sufrágio universal que as democracias proporcionam: uma opção consciente naquilo que melhor parece ao eleitor em termos de progresso social.

A matéria em questão ainda alerta que a democracia implica em controle social – e a democracia brasileira é fraca. A maioria dos eleitores não acompanha o desempenho dos políticos eleitos e os candidatos mais votados são frequentemente personalidades midiáticas, sem um histórico de engajamento social, ou lideranças comprometidas com esquemas do poder tradicional.

Por esta razão, a força do marketing nos pleitos brasileiros. Não se trata do projeto, mas do discurso, da narrativa, das verdades criadas. Houve um marketeiro de sucesso neste país que chegou a dizer que quando os fatos reais não coadunavam com o discurso marqueteiro, devia-se mudar os fatos, mas não o discurso, porque era este que encantava a população

Aletéia ainda alerta para o fato de que a estratégia populista, com a vinculação direta da massa de eleitores a um líder que promete resolver os problemas gerados pelo fracasso do sistema democrático, pode ser utilizada tanto pela esquerda quanto pela direita.

O populismo atrela a mudança a uma determinada liderança pessoal, inibe o fortalecimento político das várias instâncias da sociedade organizada. Além disso, o governante populista, tendo se viabilizado sem o necessário suporte institucional e com uma base social forte mas pouco articulada, termina enredado no corporativismo e no clientelismo das elites políticas tradicionais, repetindo esquemas fisiológicos que não consideram o bem comum.

O populismo pressupõe a lógica do “nós contra eles”. Ao culpabilizar o outro por todos os problemas sociais e econômicos, inibe a reflexão crítica e a construção do realmente novo. Implica numa adesão acrítica ao discurso do líder e/ou de seu grupo, associando-se à disseminação de notícias falsas e à deturpação da realidade.

Esse é o perigo de qualquer eleição, e é contra isso que devemos estar alertas neste 2022.

Sérgio Motti Trombelli é professor universitário e palestrante

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