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Somos todos cristãos

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USP

Pela primeira vez em nosso país, a religião entrou na disputa eleitoral. Isto é um perigo. Na verdade, o que vem ocorrendo não é um confronto de religiões diferentes, mas sim uma divisão indesejável e inexplicável dentro da própria religião cristã.

Esta conduta de “nós contra eles”, o bem contra o mal, quando se trata de Jesus Cristo, não é cabível, porque quem segue Cristo é sempre do bem e a base doutrinária continua sendo a mesma, a união e o amor entre os semelhantes, enfim, a palavra de Jesus eternizada nos evangelhos, o Novo Testamento.

Apenas para registro, vamos relacionar algumas das maiores do mundo contemporâneo e a quantidade de fieis que cada uma delas possui é aproximada:

– Cristianismo – 2,3 bilhões de fiéis

  • Católicos Apostólicos Romanos – 1,3 bilhão
  • Católicos Apostólicos Ortodoxos – 230 milhões
  • Neopentecostais – 810 milhões

– Islamismo – 1,9 bilhão

– Hinduísmo – 1,1 bilhão

– Budismo – 510 milhões

– Judaísmo – 14,7 milhões

– Espiritismo – 14,5 milhões

Estas são algumas religiões além de outras, muitas outras, o que mostra a diversidade de pensamento e fé que o mundo possui.

Os Neopentecostais têm interfaces ou agrupam parte dos evangélicos, os quais, em 2010, no último censo do IBGE, registraram um significativo aumento em relação ao Censo de 2000. O crescimento foi de 60% de aumento do número de pessoas filiadas às denominações evangélicas.

Um salto de 15,4% para 22,21%, contra 64,6% de católicos. E os evangélicos continuam crescendo com inúmeras denominações. Contudo tanto evangélicos, como católicos romanos e ortodoxos continuam sendo cristãos, isto sem contar que no Brasil, há o Espiritismo cristão, com cerca de 4 milhões e fiéis.

Assim, todas estas denominações religiosas não devem ser separadas, porque se constituem num imenso manancial de fé que faz de nosso país, provavelmente, o maior país cristão do mundo.

Por isso, instrumentalizar evangélicos e católicos no sentido de pensarem em si mesmos como adversários, é um absurdo e, como disse antes, perigoso, porque pode originar uma “contenda ideológico-religiosa” a qual não será útil a ninguém.

Nesse sentido, a conduta de cristãos que desrespeitaram a fé de outros cristãos em Aparecida no dia 12 último é um exemplo mais do que inaceitável. Ofender sacerdotes com vaias pode permitir que se ofenda igualmente pastores em situações semelhantes, e aí vai pedras nos de cá, pedras nos de lá, quando todos somos um em Cristo.

Em Aparecida, os sacerdotes falavam de ações cristãs em relação a pobres, crianças, coisas que todos os cristãos, sejam quais forem suas igrejas, evangélicas ou católicas, defendem porque isso faz parte dos ensinamentos de Jesus.

Templos não podem ser comitês. Política não é conduta a ser praticada “pela instituição” nas quais estão agrupados os fiéis e sim pelos próprios fiéis individualmente. Isto quer dizer que sua igreja deve estar apartada de uma bandeira política, não se submeter a uma sigla partidária e nem mesmo comandar nenhuma delas, embora você pessoalmente possa participar do processo político e até deve civicamente como cidadão.

Por isso, nosso país é laico. E o que isso quer dizer? De forma abrangente, podemos dizer que um Estado é laico quando há uma separação oficial entre Estado e religião. Isso significa que não existe uma religião oficial de Estado, ou que nenhuma religião pode ser beneficiada em detrimento de outras e que a interferência religiosa não é permitida em decisões estatais.

Vale lembrar que “Já há muito, a Igreja reconhece que a vida política das nações é uma responsabilidade dos leigos de cada país – e que a instituição religiosa deve manter um adequado distanciamento das decisões políticas e partidárias.” De igual modo, não cabe ao Estado interferir nas crenças religiosas dos cidadãos ou querer administrar os princípios da fé, constituindo “religiões estatais”. (Aleteia)

No tempo do cristianismo primitivo, estado e religião estavam unidos.  Quando Jesus falou “Dai a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus”, Ele não se referia apenas a impostos, ou moedas, e sim tratava de condutas.

Aquilo que é do Estado não é de cogitação da religião, e o que é da religião não é de cogitação do Estado porque isto cria posicionamentos passionais cujas consequências não acabam sendo boas nem para a religião, nem para o Estado.

Temos exemplos lamentáveis em alguns países pelo globo que, por conta disso, obrigam irmãos a padecerem em guerra desde há longa dentro do solo da mesma pátria.

Por isso, no segundo turno, vote na pessoa, mas naquela que você julga ser a melhor e não naquela que uma instituição, seja qual for, comercial, industrial, clubesca, religiosa deseja. O voto é uma ação de foro íntimo, seu e de mais ninguém. E, sobretudo, seja cristão na verdadeira acepção da palavra, isto é, valorize o amor e não o ódio.

E, como todos dizem, se Deus é brasileiro, tomara que guie o dedo dos brasileiros para que seja feita a melhor escolha de um melhor amanhã para todos nós.

Sérgio Motti Trombelli é professor universitário e palestrante

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